O Balanço

Pára de sorrir
E exibir a tua felicidade
Só por leviandade
Se pode sorrir assim
Num estado de graça
Que até ofende quem passa
Como se não haja queda
No universo
E a vida seja moeda
Sem reverso
Por isso pára de sorrir
Não abuses dessa hora
Ela pode atrair
O ciúme e a inveja
Tu não perdes pela demora
E a seguir tudo se evapora

Excerto da letra da "Canção de Alterne", da dupla Carlos Tê/Rui Veloso

É-me difícil fazer o balanço de 2009 sem "exibir" a minha felicidade. Como sou um desconfiado por natureza (herança paterna), ando à espera que aconteça a "desgraça" que equilibre tudo o que de bom me tem acontecido nos últimos tempos.

Claro que o ano que hoje acaba também me trouxe dissabores. A forma leviana como fui tratado numa casa cuja camisola vesti com brio, por gente que defendi e ajudei ao longo de quatro anos e, principalmente, a morte tão prematura do meu primo Tó. Essa sim, foi a má notícia do ano que me marcou de forma profunda.

Das boas notícias é difícil falar de forma resumida. Atravessam todas as áreas da minha vida: pessoal, familiar, profissional, financeira, e até o meu Benfica parece querer começar a dar alegrias...

Desde logo a paz interior que sinto, e que encontrei depois de dois anos tumultuosos, os mais instáveis da minha vida. Claro está que é uma paz muito fundamentada na figura da mulher que entrou na minha vida de forma absolutamente inesperada e que trouxe muita coisa que eu nem tinha noção precisar. Ela é a principal razão do meu equilíbrio e da minha segurança. E é incrível como estando bem comigo próprio e com quem comigo partilha a vida, se torna tão fácil estar bem em todos os restantes aspectos...

Depois, foi um ano em que solidifiquei algumas amizades que muito me têm ajudado a encontrar-me e a partir com confiança para os desafios com que me tenho deparado. Que bom tem sido sentir a energia positiva dos que, dedicada e perserverantemente, me têm acompanhado. Que confortável é saber que tenho tantas portas onde bater sempre que preciso, ou simplesmente me apetece.

2009 ficará para sempre marcado, na minha história, como o ano em que assumi aquilo que sou, e o que mais gosto de fazer na vida. Foi um ano de grandes decisões, e de muitas e boas surpresas. Às vezes ainda me custa acreditar como tudo aconteceu tão depressa, de forma tão espontânea. Em Janeiro estava a reformular o RC Trio, a começar a tocar com novos músicos, e passados doze meses estou a gravar disco, com esses mesmos músicos, e com outros que vêm acrescentar ainda mais talento ao projecto. Foi um ano de muitos espectáculos, muitos projectos, noites fantásticas como a de 29 de Junho, em que mais de 50 pessoas uniram esforços para que pudesse gravar um disco (entre as quais o José Mário Branco!). Foi um ano de muitas canções, muitos ensaios, emoções indescritíveis como tocar em Almada, para aquela sala cheia, e ouvir tantos aplausos e incentivos da grande massa humana que marcou presença para me apoiar.

Foi um ano verdadeiramente bom. Não sei o que me reserva o próximo, mas acredito que será igual ou melhor. Sei que os tempos de dificuldades e provações chegarão, mais tarde ou mais cedo. Tenho plena consciência que a vida é feita de bons e maus momentos, e todos são importantes para a nossa formação.

Acima de tudo, espero poder continuar a gozar de boa saúde, e que não me faltem aqueles que amo. O único compromisso que tenho com a vida é tentar ser um melhor ser humano, a cada dia que passa. É nisso que concentrarei os meus esforços, seja tocando, cantando, compondo, falando, ouvindo, escrevendo, lendo ou simplesmente estando presente.

E é isto que vos desejo a todos, sem excepção, para o ano que agora se inicia. Que tenham saúde e se esforcem para ser, cada vez mais, melhores seres humanos.

Bem hajam!