2 de dezembro de 2009

Ponto de Citação - Radiografia (II)

"(...) Que mais falta?
Falta literacia. Tínhamos há 30 anos a mesma taxa de analfabetismo que a Inglaterra de 1800. Em matéria de alfabetização havia 150 anos de atraso. Porque é que os portugueses não lêem jornais? A falta de hábito de ler os jornais é muito importante, porque o jornal é a fonte de informação que mais está virada para o raciocínio, o pensamento, a participação. Quem vê televisão está geralmente em posição passiva.

Mas hoje a imagem é rainha. O apetite por um jornal nunca igualará o da televisão...
Mas quem tem como informação exclusiva a televisão subordina o raciocínio, o pensamento, o estudo, o lápis que toma as notas, às emoções. É mais fácil ser livre e independente com um papel na frente do que diante de uma imagem que é fabricada com som e se dirige às emoções e aos sentimentos e não à razão - ou pouco à razão. Sou consumidor de televisão e da net, mas o que quero dizer é que, ao contrário de todos os países europeus, quando os portugueses começaram a aceder à escola e a aprender a ler, nos anos 50 e 60, já havia televisão. Não se fez o caminho que todos os outros países da Europa fizeram, que foi dois séculos a lerem jornais e só depois com uma passagem gradual para a rádio e para a televisão."

Excerto da entrevista de António Barreto, Sociólogo e Presidente do concelho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, ao jornal i.

1 comentário:

Zélia Parreira disse...

E nem imaginas o impacto que isto tem no dia-a-dia das pessoas, na vida e na evolução da nossa sociedade. Aprendemos a aceitar aquilo que nos dão sem discussão, sem argumentos, sem sequer pensar sobre o assunto, exactamente como fazemos com a televisão.
Perde-se a oportunidade de aprendizagem que só a curiosidade é capaz de proporcionar. Perde-se a oportunidade de ser livre, porque pensamos que este direito já foi conquistado por outros, e que já nada precisamos fazer. Pensamos que ser livre é movimentar o nosso corpo para onde quisermos, quando afinal o nosso espírito está irremediavelmente preso na mediocridade.
Enquanto bibliotecária, sou confrontada com este desperdício de oportunidades todos os dias. Jovens que gastam horas em realidades mais ou menos virtuais e nem se aperceberam que o sol nasce todos os dias, quanto mais que a sua vida, o seu país, o seu mundo está a tomar rumos que outros decidem, que outros escolhem.
É triste, sabes?