«Está a dizer que uma das consequências da chamada "asfixia democrática" é que as pessoas só são livres para se expressar através do voto secreto?
Não tenho qualquer dúvida. Nestes últimos anos as pessoas sentem-se muito constrangidas para expressar a sua opinião, receiam retaliações, e este receio é real. E isso acaba por ter impacto nas sondagens, levando a uma convicção de que o PS vai ganhar, mas depois nas eleições isso não se verifica.
Mas as sondagens são anónimas. As pessoas têm receio de quê?
Essa sua pergunta subestima o que se passa realmente na sociedade portuguesa. Se recebo um telefonema em que me perguntam em quem vou votar, não respondo com à vontade. E é por isso que as sondagens não reflectem muitas vezes o que as pessoas pensam. E os exemplos em que se sabe que as pessoas dizem realmente o que pensam e sofrem com isso são múltiplos, não vale a pena estarmos a iludir a questão.
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Sim, mas entre esse tipo de presão - que não será propriamente nova em Portugal - e dizer que há uma pessoa que em casa não pode responder de forma livre a perguntas feitas por uma empresa de sondagens há uma grande diferença. Quer mesmo dizer que estamos mais perto de uma sociedade totalmente controlada?
Totalmente não - nesse caso não teríamos eleições. Mas não tenho dúvidas que o esforço de controlo é mais alto do que alguma vez foi na democracia portuguesa. E com eficácia. Está a produzir resultados. Felizmente está a verificar-se que a capacidade de escolha dos cidadãos portugueses se mantém, como vimos nas eleições europeias, e como vamos ver nestas.
Quais são os sectores mais asfixiados?
Como o governo em Portugal tem um peso muito grande, não só naquilo que pertence ao Estado, mas também em tudo o resto, são muito poucas as situações em que uma pessoa pode dizer que está completamente ao abrigo de uma retaliação. Este governo tem-se servido dessa força para garantir o seu controlo político. A política económica do PS - e esta é das áreas em que faremos uma mudança radical - consiste em reforçar o poder político do governo sobre a sociedade portuguesa. No fundo é pôr quase toda a economia na dependência das medidas que o governo pode tomar discricionariamente, empresa a empresa, ´apoio esta, não apoio aquela`.
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E a muito falada ida (de Manuela Ferreira Leite) à Madeira, com declarações de apoio a Alberto João Jardim? Uma contradição com o discurso da asfixia democrática?
A Madeira é um caso muito especial, porque é a única região do país em que o PSD tem tal popularidade há tanto anos que não tem havido alternância democrática. Mas não se pode comparar a Madeira com o resto do país. Podemos ter melhor ou pior opinião do dr. Alberto João Jardim - e eu faria política de uma forma muito diferente, não diria as coisas que ele diz e a drª. Manuela ainda menos -, mas ele é o homem que os madeirenses querem. Muita gente não gosta, mas é a democracia a funcionar.
Excerto da entrevista de António Borges, vice-presidente do PSD, ao jornal i.
Vamos ver se entendi, no continente o governo controla as pessoas através da economia, levando a que tenham medo de exprimir as suas opiniões e intenções de voto, receando represálias. Mas na Madeira podem exprimir-se à vontade, o governo regional não tem controlo absoluto nenhum sobre a economia local e não exerce qualquer tipo de pressão sobre as pessoas, que adoram o seu líder. É isso?
E é esta gente que se intitula a alternativa ao governo?
Alguém sabe o que quer dizer coerência e moralidade?!
Cada um que decida por si, mas se a vitória de José Sócrates é uma fatalidade para o país, o regresso desta gente ao governo é simplesmente uma ideia assustadora!
2 comentários:
Especialmente em tempo de crise como este em que vivemos. Ai Portugal Portugal, tão poucos vão bem e tantos (cada vez mais) vão tão ...mas mesmo tão... mal !!!
Continuo a dizer que está nas nossas mãos - já no domingo - alterar o rumo que isto tem levado. Em consciência. Sabendo escolher o sentido do voto. Com consciência.
Beijo
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