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Cita Heidegger: «A razão é inimiga da imaginação.» E à pergunta «como é fazer 100 anos?» ele responde como o perguntador merece: «Ora, não me venha com conversas, 100 anos é uma merda.»
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Niemeyer é o pai da arquitectura do espectáculo. Só não lhe digam isso a ele. «Arquitectura não é importante. Importante é a vida», diz. «Passei a vida sobre a prancheta mas, para mim, a política importa mais do que a arquitectura. Quem não é solidário, quem não se preocupa com a miséria, pode ser o melhor profissional e ficar rico, mas é um cretino.»
Niemeyer não ficou rico. «Teria vergonha, o meu avô morreu com a casa hipotecada.» Às vezes dá 50 reais (20 euros) a um mendigo, contrariando a tese que esmola é paternalismo. «Mas quem recebe gosta tanto...» Seu antigo porteiro comprou uma casa graças aos 8 mil dólares dados por ele, e, enquanto trabalhou na Argélia, distribuiu gorjetas chorudas aos pobres de lá.
(...) e diz que aprende muito, olhando as estrelas. «Para me sentir bem pequenino na Terra, que é a verdadeira dimensão que o Homem deve ter. E parem com homenagens, fazer 100 anos não é nada especial.»
Entrevista de Norma Couri, publicada na revista Visão
Catedral Metropolitana, de Niemeyer, inaugurada em 1970
2 comentários:
Personagem fascinante, na obra e no carácter. Uma vida de constante desafio quer ás leis da gravidade quer à condição humana.
Bem lembrado, Rogério!
A visão do Mundo através dos olhos de quem ama a Arte acima do seu próprio ser físico,nunca deixa de nos supreender.
Niemeyer é uma referência do nosso eterno espanto com a Arte e com a Vida!
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