18 de junho de 2007

Espelhos (IV)

Confesso que já não estava preparado para este Inverno tardio. E se a cabeça aguentou bem, o corpo cedeu a uma chata e muito inconveniente constipação. Semana a entrar com dois espectáculos em agenda e um sotaque à “dasex do dariz” assustaram-me o suficiente para me conter nas saídas e me deixar prender pelo sofá. O quebranto foi tal que me entreguei à preguicite aguda de só mexer os dedos e as pálpebras em frente do televisor.

Num dos raides, apanho na RTP o final do programa “Só Visto”. Já tinha visto uns bocados, e fiquei a saber pelos Gatos Fedorentos que o apresentador costuma levar os convidados às lágrimas, chamando à baila assuntos que os tocam particularmente. O convidado desta semana era o actor Rogério Samora, em quem desde logo notei uma postura muito mais serena e madura do que a que lhe reconhecia.

A caminhar para o fim do programa o apresentador lança a escada, “Sei que o teu pai acompanha com muito orgulho a tua carreira…” (as palavras não serão as exactas, mas o sentido era este). O actor acusa o toque, mas não foge ao assunto e avisa para si próprio que aquilo não vai correr bem. Revela então que em muitos anos de carreira nunca recebeu um cartão, uma flor ou uma visita dos pais em dia de estreia. Que viu muitos colegas serem presenteados e acompanhados mas que os seus pais iam sabendo do seu percurso pelas revistas. Sabia que não faziam por mal, que eram assim, mas que no fundo sente que fez a sua carreira sozinho. Daniel, o apresentador, pergunta-lhe se acha que isso nunca se vai resolver, e a sua resposta fez-me engolir a seco. “Agora não, o recado já está dado!”

Com certeza repararam que o actor se chama Rogério, o que provavelmente não sabem é que os seus pais também moram em Rio de Mouro…

2 comentários:

Uma vida qualquer disse...

Há rios especialmente difíceis de atravessar.
Besos

zmsantos disse...

Mas sabemos que na outra margem, encontraremos o nosso 'EU' mais forte, depois de o atravessarmos.

Abraço, Grande.