16 de maio de 2007

Sem bolinha no canto superior direito

Mesmo correndo o risco de me tornar repetitivo, não resisto a voltar a chamar a vossa preciosa atenção para o "blog" do Pr. Júlio Machado Vaz, Mestre para os adeptos incondicionais como eu.

Reparem neste manancial de emoções:

Estas mulheres...:(.

Estamos

Adormecer a luz e senti-lo acordar. Cruel, de tão gentil e vagaroso. Não me posso queixar, fui eu que lhe ensinei o gozo de gozar antes do gozo. Encabritar-se nas minhas costas sem resposta, prefiro outras embaixadas. As mãos; as mãos dele – suaves como a pele que lhes ofereço, cuidada a pensar nestes momentos. No escuro é ainda mais fácil imaginar-lhe os dedos longos, amei-os desde o primeiro ajeitar de cabelos. Tantos anos volvidos, continuam a desenhar mapas virgens no meu corpo, que se vira para acolher o seu. E conseguem o milagre de sobreviver ao estreito abraço, onde um alfinete sufocaria, elas continuam, marotas, a semear fogueiras. Orlam-me as coxas, arrepiadas e clamando por vingança, que chega de bosque e fonte. Afogo-lhe dedos que subirão, subirão, ao longo de ventre liso, busto arqueado e montes rijos, até à boca, ansiosa pelo sabor do meu prazer. Secá-los um por um, entreabrir os lábios, senti-los fugir, o cabelo espera-os, feliz pelo turbilhão que prometem. Partir rumo ao impossível esgueirar – às dele juntar as minhas. Tocarmo-nos a quatro mãos. Viajar em sentido contrário, gosto de lhe partir do peito e esquivar-me à impaciência do mastro que espera velas e brisa para abandonar o porto. Não há pressa, a maré-cheia é garantida. Chegar. Manter um diálogo mudo e esquivo entre a rijeza dele e o borboletear da minha língua, cuidado!, não despertar o vulcão… Cobri-lo eu. Todo. Porque do meu corpo minúsculo se desprendem as asas do desejo, que o rodeiam em voo picado. Erguer-me, cavalgando-o. E vê-lo sorrir de mansinho, olhos fechados, as ancas em busca do meu ritmo, numa volúpia preguiçosa e abandonada, que os homens desejam muito e receiam mais, ele também era assim. A explosão; os gemidos; adoro alimentar o meu prazer no seu. Um de regresso, outro a levantar voo, é chegada a minha vez. O espasmo repetido, febril, ausente. O peito dele, acolhedor, escuto o coração, que passa da desfilada ao pé ante pé. O silêncio. Estamos. Bem. Saciados, mas com a selvagem certeza desta fome não ter fim.

4 comentários:

Uma vida qualquer disse...

O texto é fabuloso e a sensibilidade unisexo.
Besos

zmsantos disse...

Este Homem esteve, com Camões, na Ilha dos Amores.De certeza...

Anónimo disse...

Este poema em prosa escrito é mesmo da autoria dele?
Desculpem-me a dúvida mas acreditem-na genuína.
Escrita de sensibilidade feminina pela mão de um Homem não é para qualquer um! Se calhar nem para qualquer uma!

Abracinhos

Cravo a Canela disse...

Pois é, Salgas, por isso é que este homem é mesmo único...