25 de abril de 2006
25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Cmo tempo novo
Sem mancha nem vívio
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
27 de Abril de 1974
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nesta hora
Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer
[a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia
[em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira
[e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construír o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
20 de Maio de 1974
Sophia de Mello Breyner Andresen
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Um cravo para ti!
Enviar um comentário