Tribalices

Acabo de almoçar num restaurante das redondezas, acompanhado pelo DVD dos Tribalistas.

Ainda há semanas ouvi um comentário do Nuno Galopim que dava a entender que os Tribalistas eram uma das porcarias que atravessam o Atlântico para nos dominar. Bom, vou-me abster de comentar qualquer frase do iluminado Galopim...

O facto é que gostei de ouvir novamente as tribalices de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, depois de passada a febre do sucesso.

É curioso que agora algumas pessoas tentem passar a ideia que este era um projecto com sucesso à partida. É certo que os três músicos já tinham o seu espaço no meio musical brasileiro mas o formato era tudo menos favorável. Hoje em dia fazer um disco sem bateria, sem "artilharia pesada", que não ponha logo as massas ou a dançar ou a abanar a cabeça como se estivessem em Meca é meio caminho andado para o esquecimento.

Mas a realidade é que um disco "caseiro", feito por três amigos e mais alguns ajudantes, vendeu e tornou-se um sucesso. E porquê? Digam o que disserem, pela força e qualidade das canções. Os arranjos são bons, a sonoridade tem qualidade, os músicos eram conhecidos do público mas o que vinga neste disco é claramente o essencial: as canções. Faz-me lembrar, no conceito e no fenómeno o projecto português Rio Grande.

E para os que pensam que esse é o caminho mais fácil, compor meia dúzia de canções e gravá-las sem grande roupagem, desenganem-se. É bem mais difícil porque se as canções não tiverem em si mesmo a qualidade necessária, mais expostos ficam todos os defeitos e todas as limitações.

E confesso-vos que me anda a apetecer fazer canções e gravá-las com dois ou três amigos. Sem estar preocupado com o lançamento do disco, com os milhares que não vai vender, com os espectáculos que não vão aparecer. Apenas fazer música. Só tenho pena de ainda não ter a minha casa equipada. Mas não sei se esta limitação me vai travar. A ver vamos. Talvez daqui a uns meses faça o lançamento da primeira canção aqui no Tubo...

Rogério Charraz