10 de setembro de 2010

Valores e princípios

Sim, o título deste texto é "valores e princípios", dois bens em extinção, substituídos há muito por "vitórias e dinheiro".

E imaginem que escolho este título para falar da demissão do seleccionador principal da Seleccção Nacional de Futebol de Portugal.

Mas antes, deixem-me esclarecer alguns pontos:

a) eu não sou um particular adepto do Prof. Carlos Queiroz, enquanto treinador de futebol. Admiro as suas capacidades enquanto formador de jogadores, reconheço-lhe o mérito na formação da "geração de ouro" do futebol português, aceito que seja um dos responsáveis pelo sucesso de jovens jogadores no Manchester United (Ronaldo, Rooney, Andersson, Nani, etc.), mas sempre me pareceu limitado nas escolhas técnicas e tácticas;

b) o meu entusiasmo com a Selecção de Futebol começou a esvaziar-se no dia em que percebi que o conceito nada tinha a ver com a representação de um país, de uma cultura e de um povo. Desde há um tempo a esta parte que se têm tomado decisões que, para mim, chocam frontalmente com a ideia de uma selecção nacional: a escolha de seleccionadores estrangeiros, a utilização de jogadores nascidos e criados noutros países, até a escolha do nome da mascote do Euro 2004 (Kinas) é uma afronta à língua portuguesa (o "k" não faz parte do nosso alfabeto...), já para não falar da escolha de uma cantora que fala português com pior sotaque que o meu inglês... - o mais estúpido destas escolhas é que nós temos o treinador mais ganhador da actualidade (Mourinho), outros que batem recordes de vitórias (Manuel José), um dos melhores jogadores do mundo (Ronaldo), jogadores a actuar nas melhores equipas da Europa (Nani, Meireles, Ricardo Carvalho, etc.) e cantores reconhecidos em todo o mundo (Mariza, Madredeus, Dulce Pontes, etc.)

Posto isto, tenho que dizer que este processo de despedimento do Prof. Queiroz é uma vergonha nacional, e mais uma demonstração da falta de carácter das pessoas que dirigem a Federação Portuguesa de Futebol (instituto público).

E para mim, o facto principal é este: as pessoas que estão agora a "usar" o incidente entre o Prof. e a equipa da brigada anti-dopagem, para um despedimento com justa causa, são as mesmas pessoas que branquearam a agressão de um outro seleccionador a um jogador adversário, no pleno exercício das suas funções, com a agravante de ter negado o que toda a gente viu na conferência de imprensa, expondo ao ridículo a Selecção e o País. Ou seja, se um Seleccionador ofender verbalmente técnico ani-dopagem deve ser despedido com justa causa, mas se agredir fisicamente um jogador, em frente às câmaras de TV, e se prestar ao ridículo de o negar, passa com uma suspensão e uma multa pecuniária.

Atenção, não estou a defender os actos do Prof. Queiroz, embora me pareça, pelo que li, que as atitudes dos técnicos também não foram as mais correctas. Mas deixemo-nos de palhaçadas, o que está aqui em causa é a má prestação da equipa no Mundial, e a vontade da Federação em substituír o Seleccionador!

E isso é errado? Não, mas façam-no como homenzinhos, despeçam o homem, indemnizem o que estiver contratualizado e que foi assinado de livre e espontânea vontade por ambas as partes, e não deixem conspurcar o nome de alguém que já deu muito (os únicos campeonatos mundiais de sub-21 ganhos até hoje!) ao país.

E é isto que me revolta nesta história: mais uma vez a economia e o dinheiro vale mais que a palavra e os princípios. Esses senhores viram uma oportunidade de poupar uns Euros, e não se importam de queimar o nome de outros e se ridicularizarem a eles próprios. E o mais triste disto tudo, é que, com o barulho das luzes, já só ouço falar da incompetência do Queiroz...

E termino com uma frase batida: é o mundo em que vivemos. Tudo se desculpa e perdoa desde que se ganhe. Todas as regras podem ser contornadas, desde que seja para ganharmos. Qualquer argumento é válido para mandar a baixo quem não ganha.

2 comentários:

zmsantos disse...

Disseste tudo, amigo! Por isso é que nunca serias um "bom" político.

Abraço!

Groovezinho disse...

Pois.. é que o problema deste nosso país não são propriamente os problemas...mas sim a forma como são resolvidos! Porque problemas todos os países têm.
No nosso caso, este tipo de situações é, infelizmente recorrente, e histórico até...