- (...) Confesso que já trabalhei para outros, mas isso era porque ainda não tinha aprendido a agir conforme a realidade. A realidade diz que quem quer subir na vida deve trabalhar sempre para si, mesmo que seja empregado de outro. E também é uma coisa que se deve dizer o contrário do que se faz e fazer o contrário do que se diz, o que de novo, aliás, mostra que se deve prestar atenção no que o sujeito faz, não no que ele diz.
(...)
E, finalmente, a mais benfazeja felicidade, a felicidade de ouvir música, o supremo dos prazeres do espírito, que desnecessitava saber ler ou entender línguas estrangeiras, mas ia direito à alma, transportando-a para a proximidade do paraíso. Entre todos aqueles aparelhos que manipulava com destreza, o de que tinha mais ciúme era a sua vitrola, que lhe proporcionava o que, se não fosse por ela, só teria se vivesse na Europa. Nada disso, a Europa vinha pelos ares, na hora e no jeito que ele queria.
Excerto do livro "O Albatroz azul", o mais recente do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro.Acabo de ler este fantástico livro, e mais uma vez fico rendido, como quase sempre acontece quando se trata de escritores brasileiros ou africanos. Há neles uma simplicidade que é tudo menos simplória, e que nos transporta num universo mágico de humanidade. Adoro as suas personagens e o seu ritmo.
2 comentários:
João Ubaldo é baiano, nascido na Ilha de Itaparica.
É mesmo daqueles que do simples vão ao profundo das coisas e das gentes.
E viva a simplicidade (sem ser simplória)!
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