24 de dezembro de 2009

Feliz Natal!

Seria normal que eu não gostasse do Natal. É uma época que, não falando na vertente religiosa que me diz pouco, se baseia na família, na sua harmonia e reunião.

Ora harmonia familiar é coisa que nunca tive enquanto miúdo, fruto da relação dos meus pais ter sido, desde sempre, conflituosa e marcada por sentimentos diferentes e opostos ao amor, amizade e compreensão que deve unir os casais.

Por isso, os dias que antecediam o Natal eram quase sempre marcados pela discussão, pela tensão, pelos gritos, quando não pelos insultos e troca de acusações, pelo que a consoada era normalmente passada num ambiente de tréguas temporárias "em nome dos miúdos".

Os miudos cresceram e cada um seguiu o seu caminho, que poucas vezes se cruzou. Os meus pais permaneceram juntos, não por qualquer sentimento romântico lhes ter invadido o coração, mas porque o interesse de um lado, e a necessidade do outro, assim o impuseram. Ou seja, o ambiente foi ficando mais calmo, menos conflituoso mas longe, muito longe de ser um ambiente familiar saudável, como eu o entendo.

De tal forma que há dois anos atrás decidi passar o Natal sozinho. Não por estar depressivo, não por renegar a minha família, mas porque continuo a acreditar que podemos sempre fazer alguma coisa, mesmo que os nossos actos sejam meramente simbólicos. E a minha ausência foi a forma que encontrei de dizer: eu não quero continuar a viver neste ambiente, ignorando tudo o que de mal se vai passando por aqui. Eu não quero que o Natal seja um período de tréguas, quero que seja a continuação do resto do ano...

Ora, por todas estas razões, era normal que eu não gostasse do Natal. Mas como nada em mim é fácil de catalogar como normal, eu adoro o Natal! Desde miúdo que o meu coração sorri de cada vez que começo a ver as ruas decoradas, os meus ouvidos dançam quando ouço as tradicionais músicas da época, os meus olhos brilham sempre que piscam as luzes da árvore...

Não sei se foi por ter uma imaginação muito fértil, se foi por nunca ter deixado de ser um menino por dentro ou simplesmente por ter um prazer enorme em estar vivo e acordar todos os dias, o facto é que nunca deixei que as contrariedades da vida me tirassem o prazer desta quadra. Nunca deixei de sentir dentro de mim a harmonia que a minha família nunca experienciou.

E se normalmente vibro com o Natal, este ano tenho muitas e boas razões para o fazer! Vivo um período de grande paz e harmonia comigo próprio, com a mulher que faz o favor de me aturar, com a família que se tem aproximado (os maus momentos trazem sempre coisas boas com eles) e crescido, com o resto da familia (dos dois lados) que eu simplesmente adoro, e com os que recentemente chegaram à minha vida e muito me têm ajudado a sorrir, sem esquecer todos os que têm permanecido do meu lado, mais ou menos presentes fisicamente.

Com todos gostaria de partilhar esta paz interior, desejando-vos um feliz Natal, sejam quais forem as condições em que vão passá-lo. Lembrem-se, o brilho do Natal está dentro de nós, por muito escuro que seja o ambiente à nossa volta...

7 comentários:

Maria disse...

Deixaste-me com um nó na garganta muito difícil de desatar. Por isso não vou escrever mais palavras.

Mas nada me impede que te abrace. E te beije!
(e como eu gosto de ti!)

Pedro Branco disse...

Podia contar-te a minha história, Rogério. Lembrar o Natal, a família, esta respiração que temos... Tenho vivido estes tempos sem a cor das luzes e das bolas, tu sabes. Deixo-me cair aos poucos em palavras e cachaça... Perdido de um tempo que corre... De vez em quando os sorrisos. De vez em quando os abraços. De vez em quando a esperança. Podia contar-te a minha história... Mas não vale a pena. Acabaste de me dar a força para encontrar o resto de mim!

Obrigado. E Feliz Natal!

zmsantos disse...

Só tu, meu amigo, para me recordares que, desde que te tenho, o Natal tem sido o ano inteiro.
Brindo à amizade e à sua força!

Anónimo disse...

Feliz Natl para todos ai em casa !
Beijinhos Grandes, primo ;)
Inês Parreira

Leticia Gabian disse...

Meu amigo,
Escrevi tanta coisa...Apaguei...Tornei a escrever...Apaguei, outra vez!
Olha, fico como a Maroca.
Deixo aqui um abraço (daqueles bem apertados)

Princesa Isabel disse...

Partilho contigo o meu entusiasmo por esta quadra. Ainda me lembro do sapatinho na chaminé quando era caninas... :)
Uma grande beijoka!
Boas Festas!
da Princesa

Anónimo disse...

Ao espreitar o teu blog e ao lêr este teu post, não posso deixar de o comentar. Este ano descobri que o Natal é muito mais do que aquilo que conhecia. Como sabes este ano a nossa noite de Natal foi passada numa sala dos cuidados intensivos do hospital da Estefânia, ao lado do nosso recém- nascido filho Rodrigo. E foi maravilhoso!!! Voltámos para casa com o coração pequenino, mas preenchido de amor e felicidade. Aprendi que mesmo separados por uma incubadora, mãe e filho podem partilhar e sentir o Natal e a sua magia. Aprendi que o olhar do meu filho é a melhor e mais valiosa prenda do mundo..o Natal é onde, quando e com quem quisermos...

Obrigada pela força!!!

Paula Gomes