Ser filho de um poeta foi determinante para o seu exercício da escrita?
Acho que sim. Mas o meu pai não é apenas um poeta no sentido em que escreve poesia, é um poeta no sentido total, vive em poesia. Lembro-me que nos momentos mais complicados da Guerra Colonial passámos por esse período de uma forma totalmente distante, porque para ele o mais importante era irmos ver os pelicanos ao final da tarde ou procurar pedrinhas para coleccionarmos. Ele ensinou-nos a procurar pequenas razões para sermos felizes mesmo no meio dos destroços e é essa a educação que tento transmitir aos meus filhos. Toda a minha família tem a percepção de que as coisas mais importantes não estão à venda.
Continua a fazer questão de dizer que não é escritor, mas sim que está escritor?
O verbo ser implica uma ideia de essência, uma coisa quase genética, como se ser escritor fosse algo que estivesse determinado e para mim ser escritor é uma maneira de estar. Este meu sentimento poético nasce da relação que tenho com os outros e com o mundo e se isso se perder não deixo de ser quem sou, mas posso deixar de escrever, ou melhor, de publicar o que escrevo.
Extracto da entrevista com o escritor Mia Couto, publicada no jornal "Dica da Semana" do passado dia 20 de Agosto.
1 comentário:
Também gosto de Mia Couto...
:))
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