Sem assunto

São 2h30 de Domingo (ia a dizer de Sábado, mas esse já foi) e acabo de chegar a casa. Vinha ansioso para chegar porque me apetece escrever. O problema é que não tenho assunto.

Apetece-me escrever mas não tenho assunto.

Eu sei que parece estúpido. Como diz a avó do Balão, quem não tem nada para dizer, cala-se. E é uma máxima que eu costumo seguir, só falar quando tenho algo a acrescentar. Mas não há regra sem excepção, e hoje apetece-me escrever, mesmo não tendo nada de novo para dizer.

Eu sei que parece estúpido.

Mas mais estúpido seria falar da minha vida, só porque me apetece escrever. Tirando um outro bocado que interessa particularmente a terceiros, a minha vida só é mesmo interessante para mim. Pôr-me aqui a divagar sobre o meu estado de espírito ou sobre o que me aconteceu hoje, ou sobre factos banais que povoam os meus dias seria tão ou mais estúpido que escrever sem ter assunto. E totalmente desinteressante.

Podia também inventar algo para justificar a minha vontade de escrever. Dar uma opinião sobre a actualidade ou filosofar sobre relações humanas, ou ainda provocar uma polémica para ter muitos comentários. Podia escrever um poema, ou aventurar-me num conto. Mas não me apetece.

Apetece-me apenas escrever.

Deve ser influência das crónicas do António Lobo Antunes, que leio regularmente na revista “Visão”. Conhecem? Muitas vezes também não têm assunto. Chega-se ao fim e percebe-se que o homem não falou de rigorosamente nada. Mas o que é facto é que aquilo é bom de ler. Ele não diz nada mas a gente lê muita coisa. Eu sei o que estão a pensar:

- Não é para todos!

Pois não. É preciso ter muito talento para se escrever um bom texto sem assunto. Também é preciso tê-lo para explorar um tema, mas o facto de haver um ponto de partida, gera logo uma série de ideias. Agora, sem assunto, é obra…

É engraçado que me esteja a dar esta vontade, logo a mim, que fujo dos “fala-baratos” como o diabo da cruz! E à medida que os anos vão passando, vou tendo menos paciência para aquelas pessoas que falam, falam, e não dizem nada. Cada vez mais procuro rentabilizar o meu tempo para pessoas interessantes, que me estimulem. Sou cada vez menos dado a palavras de ocasião, a conversas sem sentido, e no entanto, eis-me aqui a dissertar sobre... nada!

E vocês, ainda aí estão?! Não me digam que vos deu uma vontade repentina de ler?!