9 de janeiro de 2008

De cortar a respiração...

Maria,

Parece que os prosadores lusos se queixam de dificuldades no que à escrita do sexo diz respeito. Problema deles, querida, não sou escritor. E por isso me atrevo a falar deste desejo que só foi obsceno enquanto secreto; e foi-o tempo de mais… O teu ventre. Ao qual não farei a injustiça de chamar liso, seria torná-lo um entre muitos. Recordo a sua doce ondulação, atravessada pela proa matreira e preguiçosa da minha língua, abandonado que foi o porto inundado da tua. Sentir esses olhos cravados no meu navegar entre bosque e montes, os dedos acariciando-me o cabelo em falso abandono, prontos a evitar que vagabundeie por países menos acesos. Descer. Exigir-te a prisão das coxas, antes de fazer desabrochar as margens desse rio, cujo caudal depende tanto do desmaio das tuas barragens como da vigília marota da minha boca. Ficar atento, sem me distanciar milímetro ou fantasia: os rins desprezando o solo, o gemido risonho, o grito abafado. Parar. O teu protesto, que esconde aprovação gulosa. De novo à estrada e aos degraus, até ao espasmo que me deixa maravilhado por te sentir longe, longe e mais perto do que nunca.Maria, tenho a certeza que o prazer das mulheres é o quebra-cabeças favorito de Deus.
Boa noite.

Prof. Julio Machado Vaz, no Murcon.

3 comentários:

zmsantos disse...

É do caraças, senhores ouvintes!!!
Fiquei com vontade que a tarde chegasse ao fim, para mais depressa chegar a casa...

Anónimo disse...

Subrescrevo o zmsantos. Mas eu não preciso que a tarde chegue ao fim .
É o que dá profissões liberais.

Trovador da Lua disse...

"...o prazer das mulheres é o quebra cabeças favorito de Deus."
E Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, segundo dizem, e eu acredito.