14 de setembro de 2007

Memória das minhas putas tristes (II)

Também estava ali fora de horas o censor oficial, don Jerónimo Ortega, a quem chamávamos o Abominable Hombre de las Nueve porque chegava pontual a essa hora da noite com o seu lápis sangrento de sátrapa godo.

(…)

Cantávamos duetos de amor de Puccini, boleros de Agustín Lara, tangos de Carlos Gardel, e verificávamos uma vez mais que os que não cantam não podem sequer imaginar o que é a felicidade de cantar.

Gabriel García Marquez, em Memória das minhas putas tristes

1 comentário:

Anónimo disse...

"E não procuro nenhum dos outros homens que amei, talvez porque nenhum deles tenha podido guardar mais do que o sabor breve do meu corpo. Amavam a novidade do nosso prazer, o meu sorriso, a minha paixão, o que eu tinha para dar.

Tu, sombriamente,amavas o que eu não dava - o ressentimento, a insegurança, a maternidade. Gostavas de me ver falhar, e não era por vaidade ou piedade, como geralmente acontece entre amigos. O meu lado medíocre não te excitava os melhores instintos. Amavas simplesmente a minha terra como uma criança ama uma pedra, um bocado de boneco, um urso sem olhos. É esse amor que agora me falta - o sujo, quotidiano amor dos momentos maus, das frases adversas, das ausências(...)"

Inês Pedrosa,"Fazes-me Falta"

A ver se te abre o apetite a esta leitura, que desarma os nossos sentidos, devolvendo-nos o melhor e mais assustador da nossa existência - a realidade das emoções.

Um beijinho azul.