27 de agosto de 2007

Eduardo Prado Coelho



No jornal Publico de ontem:

Definiu-se assim no último livro: “Um português de classe média, professor, escrevendo nos jornais, tendo uma certa vida pública e cerca de 60 anos, com uma filha, um neto e algumas histórias de amor.” Eduardo Prado Coelho, professor universitário, crítico literário e ensaísta morreu ontem na sua casa em Lisboa, vítima de ataque cardíaco.

Saudades
“O mais terrível é sentirmos a irreversibilidade do tempo. Que mesmo quanto tudo se repete, já nada se repete pela primeira vez.
E que nós gastamos como borrachas na demorada corrosão das coisas. Um dia acordamos e já não é a primeira vez. A não ser quando a paixão nos diz que, nupcial e navegante, cada gesto de amor é sempre o primeiro.”
(De Saudades, in Nacional e Transmissível)

As crónicas
“É quase um diário, mas não tem esse pacto íntimo com o leitor. É apenas o lado de fora de um diário, suspenso dos acontecimentos públicos. (…) Elas organizam-se segundo determinados eixos: cenas da vida quotidiana, memórias envolvidas na nostalgia do tempo, transformações do mundo contemporâneo, polémicas, movimentos de humor, análise política, inventário cultural. Há nisto uma cadência que se transformou em hábito. E vicia. Como é que se consegue arranjar sempre tema? – perguntam-me muitas vezes. O que nunca foi problema. A vida à nossa volta dá-nos inúmeras sugestões. A grande questão está em ler jornais e procurar conhecer tudo o que se passa no mundo. Sabendo que apenas apreenderemos uma ínfima parte, e segundo uma perspectiva necessariamente parcial. Mas a crónica cria dependência, abre cumplicidades, desencadeia paixões e ódios. Quando alguém nos surpreende ou indigna, podemos sempre pensar: isto dava uma crónica. E deu.”´
(Nota em Crónicas no Fio do Horizonte, Edições ASA, 2004)

O Sporting
“Nunca escondi essa característica da minha personalidade que é ter nascido sportinguista. Para falar verdade, não sei o que isto significa ao certo. Não consigo descobrir se se trata de um imperativo do destino, se de uma decisão racional (mas que racionalidade poderá existir aqui?). Sei apenas que sofro absurdamente quando o Sporting está a perder e que partilho a alegria de todas as vitórias, mesmo que seja sobre um clube da III Divisão: ganharam 4 a zero? São os melhores.”
(De PÚBLICO, crónica A Pré-História da Minha Ida ao Futebol, 10 de Agosto de 2005)

Ser português
“Afinal o que é ser português? É ter um bilhete de identidade português. É ser de uma família portuguesa. É ter nascido em solo português. É ter tido o português como língua materna. É considerar a terra onde nasceu como verdadeira mãe. É sentir-se português por dentro. É vibrar com a vitória de Portugal nos grandes acontecimentos desportivos internacionais. É ser reconhecido por gentes de outros povos como português.”
(De Nacional e Transmissível, Guerra e Paz, 2006)

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