28 de junho de 2007

Mayra Andrade



Uma noite de Janeiro em 2004, amadurecido por uma espécie de rumor que me percorria há algum tempo, fiz escala no Satellit Café, um clube de música ao vivo no bairro Oberkampf de Paris, conhecido por lançar em órbita novos talentos da chamada « world ». Foi aí que entrei em estado de choque, porque uma descoberta assim não acontece todos os dias : Mayra Andrade redesenha os contornos musicais do seu país, Cabo Verde, com graça, aprumo, e, coisa rara para uma jovem que ainda não chegou aos vinte anos de idade, contida. Obviamente, sabemos, graças a Cesária Évora, onde fica esse arquipélago (a 500 km de distância do Senegal) e descobre-se que essa terra árida não canta num só tom, pois é abundante de ritmos, Morna, Coladera, Funana, Batuque, que ela é rica em autores e intérpretes, raramente a viverem no seu país, longe das suas origens, mesmoexilados.

Mayra não é uma exilada. Vive em Paris desde 2003 e os seus pais transmitiram-lhe o gosto do balanço: nascida em Cuba, cresceu entre o Senegal, Angola, Alemanha e ainda… Cabo Verde. As suas amigas de infância são brasileiras. Mas foi com uma canção do seu país, em crioulo cabo-verdeano, que ela ganhou a Medalha de ouro nos Jogos da Francofonia no Canadá, entre 35 concorrentes. Tinha então 16 anos. Mayra incendeia os palcos, na Praia e no Mindelo (em Cabo Verde), depois em Lisboa, e, finalmente em França, a partir de 2002, desde as pequenas salas parisienses até aos grandes festivais de Verão. Assegura a primeira parte de Cesária Évora no New Morning. No Brasil, representa ainda uma vez o seu país, com um single a favor da luta contra a Sida, ao lado de Lenine e Chico Buarque, entre outros. Em 2005, Aznavour convida Mayra para o seu novo album, num duo em francês. Por onde ela se mostra, o seu talento impõe-se.

Eis-nos então chegados a “Navega”. Um álbum contagiante, que tem uma produção simples, em tons acústicos, no qual ela afirma convictamente a sua liberdade. É verdade que ela canta… 93% na língua patrimonial do arquipélago, mas é o disco de uma cabo-verdeana urbana, e que, além do mais, é parisiense.


Este é um excerto do texto que apresenta a cantora na sua página oficial. O disco é um dos que tem monopolizado a minha "play-list" nos últimos tempos. E não sei quanto a vocês, mas eu não vou perder a oportunidade de a ver hoje ao vivo e a cores em frente à Torre de Belém, incluída no África Festival. O meu aplauso para os programadores das Festas de Lisboa!

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