26 de outubro de 2005

Confiança

Confiança
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
Miguel Torga, em "Cântico do Homem"

1 comentário:

Anónimo disse...

Miguel Torga

O singular autor transmontano




Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido por Miguel Torga, nasceu em S. Martinho de Anta, Concelho de Sabrosa, Distrito de Vila Real, numa casa modesta de uma família de camponeses pobres, num meio rural, de onde jamais se desligou das suas origens.

Mesmo quando não referidos nas suas obras estão sempre presentes o Pai e a Mãe, pois a família é um dos pontos fulcrais da sua vida, as fragas, as serranias, a magreza da terra o suor para o pão dela arrancar e os próprios monumentos megalíticos em que a sua região é pródiga.

Viveu uma meninice em que, nas horas que não ocupava na escola, tinha de esquecer o jogo do pião e as brincadeiras da época e tomar o cabo da alfaia com o qual se trabalhava a terra.

Fez a 4ª classe com distinção na escola preparatória da sua Aldeia de nascença (S. Martinho de Anta / Sabrosa) e o Pai um pobre cavador sensível ofereceu-lhe um cavaquinho, que viria a ser a sua primeira prenda.

Com 11 anos de idade entra no seminário de Lamego donde sai pouco depois, cerca de 1 ano.

Em 1920, com 13 anos emigra para o Brasil, para Minas Gerais, onde permanece cerca de 5 anos em casa de uns tios, trabalhando na fazenda destes, fazendo de tudo um pouco.

O tio acaba por se aperceber das suas qualidades e paga-lhe o ingresso no liceu de Leopoldina, onde os professores vêm a notar as suas capacidades.

Passado cinco anos (1925) já maior de Idade, regressa a Portugal, cheio de sonhos e esperanças, o Tio dá-lhe uma mesada para prosseguir os seus estudos. Acaba por concluir o Curso de Secundário e mais tarde o Curso de Medicina, no ano de 1933 na cidade de Coimbra.

Por volta de 1927 participou juntamente com José Régio, Fernando Pessoa e Vitorino Nemésio, na revista Presença.

Durante a sua vida de Estudante, na década de 20, Miguel Torga escreve ainda alguns dos seus primeiros livros como: “Ansiedade” em 1928 e “Rampa”, ambos de poesia que são ainda assinados com o seu nome de baptismo (Adolfo Correia da Rocha) e aos 24 anos de idade estava formado na especialidade de Otorrinolaringologia, começando assim a exercer a sua especialidade.

É com o livro de poesia “A Terceira Voz” que este vai começar a usar o pseudónimo de Miguel Torga, que tem um grande significado para o autor - Torga, ou urze, planta bravia, humilde, espontânea e com o seu habitat no chão agreste por todo o Portugal, mas particularmente nas serranias do norte, é o correspondente no reino vegetal dessa força que será o poeta e o prosador.

Em 1930 juntamente com Branquinho da Fonseca, funda a revista “Sinal” , pretendendo assim criar um meio de ouvir a sua própria voz.

Miguel Torga é, em primeiro lugar, o poeta da montanha, a sua obra estende-se pelo conto, e neste podemos destacar algumas das obras mais conhecidas como: “Contos da Montanha” que retrata dramas da vida real e “Bichos” que vai ser traduzido para variadíssimas línguas, novela, teatro e romance, mas é nos diários que o escritor critica, polemiza, retrata paisagens que o emocionam, sendo São Leonardo de Galafura, local de grande inspiração para várias obras do escritor, onde reflecte sobre o Homem e o Mundo.

De vez em quando dedicava-se à Caça, já que este era o seu desporto preferido, nos montes da sua região transmontana, também local de grande inspiração para ele.

Caminhante insubmisso, viajante incansável era sempre a S. Martinho “ um berço onde tenho de nascer todas as horas e morrer um dia”, que ia refazer-se e encher a alma de montes, de serranias, do vento agreste e rude.

Em Janeiro de 1995, Miguel Torga regressou ao seu paraíso natal, S. Martinho de Anta, com a bela idade de 87 anos, onde ficou sepultado junto ao seu Pai e á sua Irmã.

Prémios que lhe são atribuídos:

Em 1976 recebe o “Prémio Internacional de Poesia” de Knokke-Heist, e alguns anos mais tarde, o “Prémio Montaigne”, da Fundação Alemã F.V.S. Dos nacionais, entre outros, recebe em 1989 o “Prémio Camões”, o “Prémio Personalidade do Ano” (1991) e no ano seguinte, o prémio “Vida Literária” da Associação Portuguesa de Escritores, na sua primeira atribuição. Havia já recebido em 1969 o prémio literário “ Diário de Notícias” e, em 1980, a ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade, o “ Prémio Morgado de Mateus”. A capacidade criadora de Miguel Torga manter-se-á até próximo da morte.

Avesso a galardões recusa em 1954 o prémio “Almeida Garrett”.

Vera Peniche - Intermediária do GAC de Sabrosa