1 de setembro de 2005

Agora a sério

Em dois dias ficámos a saber o que já sabíamos. Manuel Alegre não avança porque por muito amor ao país que tenha não está para fazer o papel de D.Quixote, e Mário Soares será o candidato do PS, ou como quiseram crer ontem, o candidato nacional apoiado pelo PS.

Já muitos analistas opinaram sobre as vantagens e desvantagens de um regresso de Mário Soares à luta política, a impressão com que fiquei foi que a maioria saudou a decisão do ex-presidente.

Ouvi atentamente as declarações de Manuel Alegre e de Mário Soares. Fiquei com a clara impressão que a candidatura de Alegre seria natural, baseada na sua forte convicção. Manuel Alegre é um homem que representa muito bem a esquerda. É idealista, lutador, coerente, impulsivo q.b., humanista e intelectualmente evoluído.
Para além de tudo isto, creio que uma candidatura do político-poeta seria uma lufada de ar fresco na panorama político português. Alegre nem sempre é políticamente correcto, sendo sensato não tem medo de dar um murro na mesa quando necessário. Penso que não é tão brando e cauteloso como Jorge Sampaio mas também não é tão calculista e tão estratega como Mário Soares.

E foi por tudo isto que enumerei que não se proporcionou a candidatura de Manuel Alegre. No fundo, o PS sacrificou a coerência, a lógica e até a inovação pela obcessão de ganhar as eleições presidenciais e eliminar o fantasma Cavaco.

Na minha modestíssima opinião, não é saudável que Mário Soares seja o candidato-salvador da esquerda. Não é saudável que tenha passado por cima de um velho amigo. Não é saudável que a esquerda pense na candidatura de Cavaco como uma ameaça ao governo. Não é saudavel que o país se vire para trás com medo do que vem pela frente. E não é saudável que toda a gente ache normal o recurso a uma figura importantíssima da história do Século XX em Portugal como medida de desespero.

Mário Soares, José Saramago, Eusébio, Carlos do Carmo, Manuel de Oliveira, Eunice Muñoz, entre muitos outros, são referências nacionais. São património deste país. Mas nunca serão o nosso futuro.

Rogério Charraz

Sem comentários: