20 de julho de 2010

A música portuguesa está bem e recomenda-se (I)



Os ANAQUIM, por JP Simões:

"Por alturas da pré-produção do programa Quilómetro Zero, depois de ouvirmos cerca de 12 mil páginas do Myspace com música portuguesa e outras coisas mais obscenas de carácter onanista, o projecto Anaquim foi o nosso primeiro consenso editorial. “Na Minha Rua” e “Pobre Velho Louco”, que agora se juntam a mais 14 canções neste primeiro longa duração, tinham a clareza, o humor bem temperado e aquela capacidade de alegre contágio que define o que a música popular aspira a ser: um bálsamo para a aspereza do quotidiano.

José Rebola, o compositor e letrista deste “As Vidas dos Outros”, desmultiplica-se deveras em mil personagens de um bairro imaginário e familiar onde se passa de criança para adulto depressa demais, tentando teimosamente guardar as histórias, os cenários e as personagens que parecem desaparecer juntamente com todas as nossas ternas e frágeis fantasias de infância.

É na primeira pessoa que Rebola canta as vidas dos outros, vidas onde falta sempre qualquer coisa, como em todas, e entre a decepção e o desamor a tónica dominante é a que tem acompanhado desde sempre trovadores e rock’n’rollers: a recusa em engrossar a multidão de vidas estereotipadas só porque é suposto já termos idade para ter juizinho, a vontade de adiar o compromisso e a resignação enquanto não nos sentirmos bem resolvidos connosco, a mágoa romântica que se protege desdenhando do amor que tanto anseia, em suma, o relato da eterna luta entre as nossas razões privadas e as vidas dos outros, esse lugar sempre estranho a que chamamos humanidade.

Em todas as canções, escritas com clareza e generosidade, Rebola consegue colocar sempre um dilema moral em destaque (“As Vidas dos Outros”, “Lídia” ou “Horas Vagas”), contar uma história em modo de lenda popular (“Vampiros”) ou pintar com detalhe e cor um quadro de quotidiano (“Na Minha Rua” ou o divertido e folclórico dueto com Ana Bacalhau, do grupo Deolinda, “O Meu Coração”): musicalmente, o clima é de festa, de celebração, entre New Orleans, os Balcãs e a Feira Popular, com rigor instrumental e imaginação, energia e empenho. “As Vidas dos Outros”, revela-nos um talentoso músico, compositor e letrista, acompanhado de excelentes instrumentistas e de uma atitude lúdica e divertida, pois, como disse José Rebola, a música deve ser também entretenimento e folia, sugerindo que a melhor forma de enfrentar os nossos medos e monstros é fazendo-os dançar."

Ler mais: http://www.myspace.com/anaquim.info#ixzz0uB97wb00

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