5 de novembro de 2007

O Terrorista de Berkeley, Califórnia

O Terrorista de Berkeley, Califórnia é o seu primeiro livro em que a história não decorre em África... Como é que isso aconteceu?
Foi um livro escrito para não ser publicado. Escrevi-o em Berkeley para me divertir e passar o tempo...Estive lá em 2003, um mês e meio, como escritor convidado e, no ano seguinte, durante um semestre, a dar aulas. E, em 2005, passei lá um mês só para dar uma conferência. Ficava no hotel, aborrecido, sem nada para fazer. Já conhecia aquilo tudo, já tinha dado as voltas todas, já estava cansado de ver televisão. E também já não tenho idade para passar 21 horas a andar. De vez em quando, tinha de ir para o hotel descansar. Nas passeatas que fazia, surfiu-me essa ideia e resolvi escrever. Pensei: "Já que estou aqui sem fazer nada, vou contar uma história a mim próprio." E escrevi sem nenhuma pretensão, numas duas semanas. Era uma brincadeira, quase. Escrevia duas ou três horas por dia, quando me apetecia.

Costuma fazer isso, escrever para si próprio?
Há muito tempo que não o fazia. Os primeiros livros que publiquei foram escritos para mim, sem nenhuma obrigação. Nem tinha a mínima pretensão de ser publicado, na época... Mas nunca mais tinha vivido essa coisa de escrever sem nenhuma responsabilidade. Uma pessoa começa a preocupar-se com o público e a crítica... não há essa liberdade de fazer o que se quer e depois deitar fora. Este livro ficou parado quase três anos, mas houve uma solicitação de um texto novo e mostrei-o ao editor, dizendo «este não». E, afinal, o editor respondeu «este sim, este sim». Agora, estou curioso de ver a reacção do público, porque é muito diferente daquilo que fiz...pelo menos, na temática, na localização geográfica, social...

Numa entrevista antiga, disse que já não se surpreende quando escreve. Desta vez, com uma escrita tão livre, surpreendeu-se?
Sim, claro. O fim, por exemplo, foi surpreendente, porque há um tom muito ligeiro durante todo o livro e, de repente, pá! O livro foi escrito assim: do princípio ao fim. E não sabia como a história ia acabar, fui escrevendo. É raro acontecer isso, ultimamente. A partir do momento em que comecei a publicar, comecei a pensar mais no fim das histórias, a sentir uma responsabilidade social, às vezes até política. A surpresa era cada vez menor. Então, tinha também cada vez menos gosto pela história. Escrever era quase já como uma obrigação, era uma profissão, faz-se, como outros vão fazer outra coisa qualquer.

Entrevista concedida por Pepetela à jornalista Gabriela Lourenço, publicada na revista Visão da semana passada.

Pepetela, tem um novo livro. E eu não vou querer deixar de o ler.

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