28 de dezembro de 2006

Pós-operatório

Pus-me a pensar (não é normal, mas de vez em quando acontece) que cada vez que toco faço aqui publicidade, mas nunca escrevi sobre nenhum espectáculo.

Ontem estreámo-nos num novo bar, o Estado Maior, em Caneças. Dois dos sócios são meus amigos há já algum tempo, mas eu nestas coisas tenho sempre algum pudor, não gosto de misturar prazeres. Certo dia em conversa o convite surgiu, "um dia destes podíamos fazer uma noite de música portuguesa". Passados alguns meses a data estava marcada - 27 de Dezembro.

Para quem não conhece, o Estado Maior é um bar já com alguns anos de existência, e embora esteja situado no que se pode considerar uma aldeia dos arredores de Lisboa, tem um ambiente muito jovem e normalmente boa afluência de público. A música ao vivo acontece sempre às quartas-feiras, por volta das 23h00, e o som predominante é o Rock.

Eu estava consciente disso, os donos do bar também, mas não tinham muita ideia do que é um espectáculo nosso, e para quem se alimenta de Rock, nomes como Zeca Afonso ou Fausto nem sempre soam familiares...

A minha expectativa, confesso, era a de chegar, tocar e fosse o que Deus quisesse. Sabia que contaria com alguns dos indefectíveis apoios entre a plateia e sabia que o caminho que temos percorrido nestes últimos anos nos dão alguma segurança para enfrentar o muito específico "público de bar", que é muito diferente do público que, por exemplo, se desloca a uma sala de espectáculos para ver concertos.

Chegados para os testes de som, a primeira surpresa da noite. Apesar de haver técnico de som (coisa rara num bar) e muito material, a qualidade do mesmo estava claramente fora de validade (do material, entenda-se, que o técnico era bem melhor). Microfones e suportes do tempo da 2ª Guerra mundial, um monitor de retorno para todos, ventoínha em palco para evitar que os amplificadores "berrassem" e um som em palco de fugir. Para quem toca essencialmente acústico, ter uma má escuta é um pouco como andar num carro sem pneus, aquilo anda mas fere!

Mais uma vez o calo prevaleceu. Há uns anos teria-nos posto mal dispostos, mas como já não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que acontece, seguimos a velha máxima de fazer das tripas coração...

O espectáculo fez-se, a primeira reacção do público foi fria. Depois aqueceu, muito por culpa de alguns golpes de cintura que fomos dando ao reportório. No fim, creio que acabámos por conseguir um bom compromisso entre as vontades dos intervenientes: o público que ouve, os músicos que tocam e o bar que paga. Creio que, de todos, éramos nós os menos satisfeitos da noite, pelas condições em que tocámos (quase que me apeteceu cantar aquela do Paulo de Carvalho "Gostava de vos ver aqui, aqui no meio do palco e não aí") mas o mais importante foi que isso não transpareceu para fora, o público aderiu (uns mais que outros) e os donos do bar ficaram agradavelmente surpreendidos, ao ponto de marcarem nova data.

Dia 28 de Fevereiro lá estaremos, desta vez prevenidos para poder fazer melhor. Querem
ouver?

4 comentários:

Anónimo disse...

E nós lá estaremos como sempre!
Com todo o Orgulho e Carinho.
Na 1ª fila
Beijo
Andreia Charraz

Patricia Parreira disse...

Priminho é o meu harói...
Basta dizeres que vivemos num país onde é preciso ter um jogo de cintura do caneco. A sorte é que o tuga é bom no desenrascanso...
Bejos.
Patricia

Alentejanita disse...

Realmente tenho que concordar com elas, só tu para mostrares claramente que o tuga não se deixa levar por qualquer adversidade, boa primito soubeste levá-lo com estilo... assim é que é

bjtox da primita alentejana

zmsantos disse...

Palavras, como Qualidade; Honestidade; Coragem; Humildade, e uma grande entrega em cima de um palco.Vamos lhes chamar 'Golpe de Cintura'? Ok. Pode ser!!!