5 de julho de 2005

Álvaro Cunhal e o comunismo

Perguntou-me o Tio Francisco (não sei se repararam mas está-se a tornar a personagem central deste blog): "Não publicaste nada sobre a morte do Álvaro Cunhal?"
E eu fui para casa a analisar a questão e a tentar encontrar os porquês. Há um que salta à vista, é que por aqueles dias tudo o que era Telejornal, especial televisivo ou comentário falava do mesmo assunto. Seria chover no molhado. Agora que acentou a poeira, vale a pena dizer duas ou três coisas.
Eu sou "de esquerda". O que é ser de esquerda? José Mário Branco numa entrevista recente dizia (estou a citar de cor) que ser de esquerda é não ser totalmente feliz enquanto houver seres humanos a sofrer seja pela fome, seja pela guerra ou por outra qualquer tragédia. Para mim ser de esquerda essencialmente é valorizar mais o colectivo que o individual. É preocuparmo-nos com o bem estar das pessoas que nos rodeiam e com quem convivemos e não pensar exclusiva e principalmente no nosso umbigo. É procurar viver em harmonia com os outros e respeitar o seu espaço e a sua individualidade.

Confesso que os meus conhecimentos sobre as teorias do Marxismo e do Leninismo são rudimentares. Portanto não tenho grande opinião sobre a teoria comunista. O facto é que sendo de esquerda só votei uma vez no PCP (ou CDU), e numa eleição para a Junta de Freguesia. Tal facto deve-se ao meu desencanto para com o partido comunista e para os comunistas que conheço. Quanto ao partido, considero que se tornou num paradigma. O partido que comandou a luta contra a ditadura e que foi o motor da luta pela liberdade transformou-se ele próprio numa ditadura em que as pessoas que discordam das orientações do partido e que manifestam as suas opiniões são excluídos. A cúpula do partido tornou-se uma espécie de sociedade secreta e os seus dirigentes parecem donos da verdade.
Para além dos dirigentes, existem outros comunistas. Muitos. Eu conheço alguns. E conheço alguns que só falta bater com a mão no peito quando dizem que são comunistas. Não faltam a nenhuma Festa do Avante e acredito, embora não possa jurar, que a sua cruzinha em dia de eleições não tem outro destino que o da CDU. A questão é que os seus actos não confirmam as boas intenções. Falo de pessoas com grande dose de egocentrismo, pouco dadas a sacrifícios em prol do colectivo, com pouco crença na força do trabalho, pelo contrário, muito mais crentes na cunha e no "lobbying" como forma de alcançar o sucesso.E a isso eu chamo falta de coerência. E todas estas coisas me têm afastado do PCP. E é por isso que, a brincar, digo muito seriamente que o meu partido é o Glorioso.
É claro que Álvaro Cunhal não é o PCP. E acredito que o contrário também seja verdade. Mas todas estas questões criaram em mim uma certa distância em relação à morte de uma das figuras mais carismáticas do século XX em Portugal. Não deixo no entanto de reconhecer o brilhantismo e a genialidade do homem e do artista. De tudo o que li, este texto do poeta Manuel Alegre, publicado na Visão, parece-me a mais bonita homenagem que foi feita. Leiam, se puderem.
Rogério Charraz


1 comentário:

Anónimo disse...

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