Este texto vem no seguimento de uma troca de mensagens. Mas acho que é tão significativo que não precisa de ser contextualizado. O autor é um querido e brilhante amigo chamado David Reis. Ora leiam:
Um autor pouco lido do fim do século XIX, disse “… a complexidade das relações estabelecidas entre o capital e as forças produtivas leva a que a história se desenvolva debaixo dos nossos olhos e independentemente da nossa vontade.”
Vivemos num mundo onde se mede o desenvolvimento pelo nível de consumo, numa época em que já sabemos o tamanho do planeta e a escassez dos seus recursos.
Estamos numa época de mudança: em 7 anos implementou-se a maior ferramenta de comunicações alguma vez imaginada e que permite esta nossa troca de palavras.
Temos os patrões ocidentais a reclamar melhores condições de vida para os trabalhadores orientais.
Aumentou-se a esperança média de vida assim como o acesso à
educação, saúde, e bens de consumo.
Não consigo imaginar o preço que se irá pagar mas estamos ás portas de um novo mundo onde se relatam guerras em directo e onde a voz de quem as contesta também é escutada.
Vamos deixa-los pousar… O senhores da globalização, criaram-na para explorar os povos do 3º mundo, criaram necessidades nas massas sem preverem as consequências de não as satisfazer o que vai sair daqui é imprevisível assim como a factura que já está a ser apresentada.
Mas a “vida”, sempre escreveu direito por linhas tortas, e aquilo que é fundamental é continuarmos a tratar das nossas hortinhas.
Não sei como funciona a nossa memória. Mas tudo indicia ser equivalente à RAM dos computadores de disco óptico: uma vez utilizado um cluster, é indelével. Ou antes, pode obscurecer-se, mas não é reutilizável.
Se algo correu mal, lá fica a marca. Não a experiência, antes o azedume, a desconfiança, o rancor, na melhor das hipóteses e nos de melhor disco, apenas e somente a mágoa.
É por isso que, quando algo correu mal, se pensa que todo o futuro está marcado e comprometido: porque as pessoas pensam-se sempre eternas, pensam sempre o futuro com elas próprias lá vivas e lá dentro, projectam sempre no futuro a sua própria memória.
Não é fácil pensar que a história existe, mas que não é feita com os mesmos, vai sempre sendo feita por outros. Mas é preciso pensá-lo e percebê-lo, pois é esse o processo que limpa e torna reutilizáveis as memórias.
Dos erros dos nossos pais, não nos sentimos herdeiros, e quanto mais o tempo passa, mais olhamos para eles com simpatia e compreensão. Mas, aos nossos erros, sentimo-nos amarrados, e pretendemos hipotecar-lhes o futuro. Podemos, no entanto ir ficando tranquilos e morrendo descansados: como tratámos os nossos pais, assim nos tratarão os nossos filhos. Perceber-nos-ão, talvez, terão, talvez, de vez em quando, um pouco de saudades nossas. Mas, pelo menos, entenderão que não têm culpa nenhuma dos disparates que fizemos.
E rir-se-ão, decerto, dos conselhos que lhes dermos hoje.
Pelo que me parece mais prudente ver se nos conseguimos aconselhar um pouco a nós próprios, enquanto estamos vivos.
Pois, aquilo que mais me parece, é que a contribuição principal que se pode hoje dar, é não empatar demasiadamente a morte, a que assistimos, desta civilização de que todos nós fomos os últimos protagonistas e produtos.
Rogério Charraz
Um autor pouco lido do fim do século XIX, disse “… a complexidade das relações estabelecidas entre o capital e as forças produtivas leva a que a história se desenvolva debaixo dos nossos olhos e independentemente da nossa vontade.”
Vivemos num mundo onde se mede o desenvolvimento pelo nível de consumo, numa época em que já sabemos o tamanho do planeta e a escassez dos seus recursos.
Estamos numa época de mudança: em 7 anos implementou-se a maior ferramenta de comunicações alguma vez imaginada e que permite esta nossa troca de palavras.
Temos os patrões ocidentais a reclamar melhores condições de vida para os trabalhadores orientais.
Aumentou-se a esperança média de vida assim como o acesso à
educação, saúde, e bens de consumo.
Não consigo imaginar o preço que se irá pagar mas estamos ás portas de um novo mundo onde se relatam guerras em directo e onde a voz de quem as contesta também é escutada.
Vamos deixa-los pousar… O senhores da globalização, criaram-na para explorar os povos do 3º mundo, criaram necessidades nas massas sem preverem as consequências de não as satisfazer o que vai sair daqui é imprevisível assim como a factura que já está a ser apresentada.
Mas a “vida”, sempre escreveu direito por linhas tortas, e aquilo que é fundamental é continuarmos a tratar das nossas hortinhas.
Não sei como funciona a nossa memória. Mas tudo indicia ser equivalente à RAM dos computadores de disco óptico: uma vez utilizado um cluster, é indelével. Ou antes, pode obscurecer-se, mas não é reutilizável.
Se algo correu mal, lá fica a marca. Não a experiência, antes o azedume, a desconfiança, o rancor, na melhor das hipóteses e nos de melhor disco, apenas e somente a mágoa.
É por isso que, quando algo correu mal, se pensa que todo o futuro está marcado e comprometido: porque as pessoas pensam-se sempre eternas, pensam sempre o futuro com elas próprias lá vivas e lá dentro, projectam sempre no futuro a sua própria memória.
Não é fácil pensar que a história existe, mas que não é feita com os mesmos, vai sempre sendo feita por outros. Mas é preciso pensá-lo e percebê-lo, pois é esse o processo que limpa e torna reutilizáveis as memórias.
Dos erros dos nossos pais, não nos sentimos herdeiros, e quanto mais o tempo passa, mais olhamos para eles com simpatia e compreensão. Mas, aos nossos erros, sentimo-nos amarrados, e pretendemos hipotecar-lhes o futuro. Podemos, no entanto ir ficando tranquilos e morrendo descansados: como tratámos os nossos pais, assim nos tratarão os nossos filhos. Perceber-nos-ão, talvez, terão, talvez, de vez em quando, um pouco de saudades nossas. Mas, pelo menos, entenderão que não têm culpa nenhuma dos disparates que fizemos.
E rir-se-ão, decerto, dos conselhos que lhes dermos hoje.
Pelo que me parece mais prudente ver se nos conseguimos aconselhar um pouco a nós próprios, enquanto estamos vivos.
Pois, aquilo que mais me parece, é que a contribuição principal que se pode hoje dar, é não empatar demasiadamente a morte, a que assistimos, desta civilização de que todos nós fomos os últimos protagonistas e produtos.
Rogério Charraz
2 comentários:
Gostei muito de alguns destes raciocínios.
Isto deve ter sido cá uma conversa...!
(Embora, pessoalmente, continuo a preferir este tipo de conversas com um copo de tinto pela frente…;-)
Vá, diz lá, de onde é que ele andou a copiar este texto… ;-)
Agradeço a consideração que o meu amigo Rogério Charraz tem por mim mas necessito de salvar um mal entendido na publicação do meu MAIL.
A primeira parte do texto, é da minha autoria mas a partir de “Não sei como funciona a nossa memória. Mas tudo indicia ser equivalente à RAM dos computadores de disco óptico: …” atrevi-me a transcrever textos ainda não publicados de um amigo já falecido: Tomás Xavier de Figueiredo.
De qualquer modo o Tomás dizia que as ideias devem ser anónimas.
Se vos servirem para alguma coisa façam o favor de as utilizar.
Uma ideia, quando é lançada, torna-se autónoma do seu autor. Se assim não fosse, a órbita da terra dependeria de Galileu e a Evolução das espécies dependeria de Darwing.
30/06/2005
David Reis
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