28 de junho de 2005

24 Horas em Portugal

Depois de alguns anos de interregno, voltei a ser utilizador regular de transportes públicos. Nomeadamente do comboio. Tenho dois passatempos favoritos quando ando de comboio. O primeiro é observar o cidadão anónimo, e o comboio é daqueles sítios onde se vê de tudo um pouco. O segundo é ler.
Ora o comboio é provavelmente o segundo local preferido pelos portugueses para ler. O primeiro é, obviamente, o WC.
Disso se perceberam alguns "carolas" e logo trataram de fazer dois jornais vocacionados para estas leituras em andamento: o Metro e o Destak. (Qualquer dia voltarei a estes jornais)
Mesmo assim, aínda há uma quantidade grande de gente que, como eu, prefere trazer as suas leituras de casa ou comprá-las pelo caminho.
Os jornais desportivos são um clássico sempre com sucesso. Não faltam as revistas "côr-de-rosa", da "Maria" à "Caras" e as ditas mais sérias como a "Visão" ou a "Focus". Também há quem opte pelos livros, dos mais variados géneros. E depois há os jornais diários. E um deles parece estar em alta nos comboios da Linha de Sintra, o "24 Horas".
Foi através de companheiros de viagem que pude observar dois dos títulos da semana passada. O primeiro era sobre uma confusão qualquer numa discoteca com o brasileiro Frota. O segundo tinha como protagonistas o futebolista Cristiano Ronaldo e uma mulata que eu não cheguei a perceber quem era. Pelo que percebi, "enrolaram-se" numa praia.
Como podem perceber, este jornal retrata na sua primeira página assuntos do maior interesse nacional. Toda a gente sabe que a nossa vida não será a mesma se o Cristiano Ronaldo "comer" uma mulata, ou duas, ou três, durante as suas férias. E é do conhecimento geral que o nosso país será seriamente afectado caso o actor porno Frota se envolver numa rixa nocturna.
Pelo menos assim o pensam os três ou quatro indivíduos que dividiram comigo a carruagem do comboio. E querem saber uma coisa, aqui entre nós que ninguém lê isto, estes indivíduos não tinham ar de empregados da limpeza, nem de domésticos, nem de pedreiros, que são os nossos protótipos de leitores de "fuchicos".
E já que estou numa de desabafo, confesso tive uma vontade angustiante de abordar um deles, sentar-me ao seu lado e perguntar-lhe: "O senhor desculpe, eu sei que não me conhece de lado nenhum e que não tenho nada a ver com a sua vida, mas o que é que lhe passou pela cabeça quando comprou esse jornal? O que é que contribui para a sua felicidade uma discussão numa discoteca ou um namoro de um futebolista? Não acha que o seu tempo e o seu dinheiro podiam ser melhor empregues?"
Por muito que me esforce não me consigo livrar deste mau feitio!

Rogério Charraz

2 comentários:

Lusaut disse...

"E um deles parece estar em alta nos comboios da Linha de Sintra, o "24 Horas"." - O teu olho não te engana! ;-)

BAREME DE IMPENSA - Abril 05

Três dos cinco principais jornais diários portugueses registaram no primeiro trimestre do ano descidas nas suas audiências, de acordo com o Bareme de Imprensa da Marktest, ontem divulgado.

DN, Correio da Manhã e Público viram reduzir o número de leitores, quando comparados com os do último trimestre de 2004 e com o período homólogo do ano passado.

O DN registou entre Janeiro e Março deste ano 3,4 por cento de audiência , menos quatro décimas do que no último trimestre, o que representa uma queda de 10,5 por cento. Quanto à variação em relação ao mesmo período do ano passado, a descida foi de cinco décimas percentuais (12,8 por cento).

Também o Público acompanhou a tendência de queda, registando 5,0 por cento, menos uma décima do que entre Setembro e Dezembro últimos e menos três do que nos primeiros três meses de 2004, ou seja, uma descida de 5,7 por cento.

Quanto ao Correio da Manhã, viu a sua audiência média cair 9,6 por cento no espaço de três meses, registando 9,4 por cento de audiência, menos um ponto percentual do que no anterior período.

O 24 Horas e o Jornal de Notícias, que, tal como o DN, são propriedade da Lusomundo Media, são as excepções. Em relação ao último trimestre de 2004, o 24 Horas é mesmo o único diário a subir, saltando de 3,0 para 3,3 por cento (uma variação positiva de dez por cento). Já quanto ao período homólogo, a subida é de 6,5 por cento.

O Jornal de Notícias continua a ser, de acordo com a Marktest, o mais lido dos diários portugueses, com 11,8 por cento, um valor idêntico ao registado na última análise. Já quando comparado com o primeiro trimestre de 2004, a subida é de 8,3 pontos percentuais.

O Destak obtém a maior subida da primeira vaga do Bareme. O jornal diário gratuito cresce 81,8 entre os dois trimestres e 150 por cento no espaço de um ano.

O jornal A Capital não surge nas contas da Marktest, uma vez que não foi referenciada por, pelo menos, 30 inquiridos da amostra.

Nos semanários, o Expresso continua a ser o mais lido, mas cai 9,5 por cento em relação aos últimos três meses de 2004. Pelo contrário, O Independente sobe duas décimas percentuais e o Tal e Qual mantém-se estável com 1,1 por cento, embora desça duas décimas no espaço de um ano.

Em alta está o mercado de revistas semanais de grande informação, animado pela entrada em jogo de um novo título, a Sábado, que cresce 40 por cento entre o úlltimo trimestre de 2004 e o primeiro de 2005, registando agora 2,1 por cento de audiência.

A Visão continua a ser a mais lida, com 7,5 por cento (uma subida de 4,2 por cento) e a Focus mantém os 2,1 por cento do último trimestre, mas sobe 16,7 em relação ao período homólogo.

A Burra Nas Couves disse...

É o país real, meu caro, é o país real. Dantes havia a desculpa do pessoal não ter instrução, agora a instrução mínima é o 9º ano, mas continuam a não ter educação. Acho que se deveria mudar o nome do Ministério da Educação, para o de Ministério da Instrução, para sermos mais exactos. O Ministério da Educação não educa, assim como o Ministério da Cultura, não cultiva nem batata-doce. Para mais esclarecimentos consulte "A Burra Nas Couves"